Casa das Fúrias é o primeiro livro de uma série escrita por Madeleine Roux, autora de Asylum, publicada no Brasil pela Plataforma21. Comprei o ebook numa promoção na vontade de experimentar algo diferente, essa foi minha primeira experiência com livro do gênero terror.
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Com dificuldade para ganhar dinheiro, Louisa fica nas ruas fazendo leituras de mãos em troca de alguns trocados. Sem ter para onde ir, a garota não tem planos concretos do que fazer para se manter por muito tempo depois de ter fugido do internato em que estudava. Ao ser abordada por uma senhora estranha depois de uma leitura, Louisa tenta desviar de sua presença numa tentativa de evitar problemas para si.
“— Olhos de criança trocada, foi isso que a garota viu — a mulher disse com a voz rouca.”
No entanto, quando a velha em questão lhe ofereceu um emprego e um lugar confortável para dormir não houve como resistir. Não era fácil lidar com a desconfiança das pessoas e conseguir dinheiro suficiente para o mínimo.
Com o emprego garantido numa hospedaria, Louisa parte com a mulher para seu destino numa clima esquisito. Quando um infortúnio atinge a carruagem em que seguiam viagem, as duas se veem sendo ajudadas por viajantes que estão seguindo para o mesmo lugar que elas. E então as coisas estranhas ficam... mais entranhas.
"Casa Coldthistle. Que nome frio. Era espinhosa, repleta de presságios, alta, espigada, precária e, com o sol atrás dela, não parecia uma construção de pedra e argamassa, mas um lugar de pura treva. – Faça essa carruagem dar meia-volta – sussurrei. Mas estava sem voz e era tarde demais."
Me encantei bastante com o estilo narrativo, a autora está sempre usando elementos, palavras e frases bem estruturadas e colocadas nos lugares certos que nos faz entrar na atmosfera do livro. Há uma carga de suspense nos segredos guardados pela casa. Certas descrições funcionam perfeitamente deixando uma sensação de medo crescente por mais óbvio que a cena seja.
Com elementos claros de uma mansão e seus segredos, acontecimentos esquisitos e mistérios que apenas te levam mais a fundo no livro, tudo o que conhecemos de comum no terror estão aqui. Mas nada foi posto levianamente.
Eu sinceramente gostei muito do cuidado com os detalhes, esse não é aquele livro que vai te fazer morrer de medo ou que possui cenas grotescas e assustadoras. Mas existe algo aqui. E não apenas nas cenas que são para dar medo ou instigar a curiosidade da protagonista de que há algo fundamentalmente errado e assustador naquele lugar, não é apenas na atmosfera sombria da casa, nas sombras que tomam formas e no dono que dizem se tratar do próprio diabo. O triunfo também está na sutileza da autora, nos pequenos detalhes, uma roupa deixa de ser um simples objeto quando é descrito no tom da narrativa, uma blusa deixa de ser banal quando descrita da cor de ossos.
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| Fonte: Epic Reads - Reprodução. |
Os capítulos do livro se alternam também com as pesquisas do senhor Morningside (com direito a gravuras), dono da pensão. O conteúdo abrange catalogar criaturas sobrenaturais, sua área de estudo. Conforme a leitura avança, a compreensão do que está acontecendo toma forma. A pessoas que trabalham na casa não são comuns, os hóspedes não são comuns e as poucas pessoas de fora da propriedade também possuem um quê de estranheza.
Eu gostaria de dizer que amei os personagens, porém, por mais que alguns fossem muito interessantes ainda faltou... Alguma coisa. Os que eu mais gostei foram a vovó e o sr. Morningside, ambos são a receita de personagens misteriosos com bastante presença. Louisa é uma boa protagonista, sendo observadora e inteligente, e um pouco impulsiva na hora de falar algo. O livro gira em torno de ninguém ser o que aparenta, essa complexidade dos personagens seria um grande acréscimo se houvessem sido bem aproveitadas. Por mais que eu tenha gostado muito de alguns, não me conectei tanto com eles.
"Mesmo do primeiro andar, era possível sentir o feitiço da porta verde no vestíbulo. Ela começou a cantar para mim na mesma hora.
A canção encheu minha mente de pensamentos turbulentos e minhas mãos tremeram, quase apagando a chama. Que língua estranha era essa na minha cabeça? Gutural e afiada, e ao mesmo tempo sinistra e sedutora..."
Determinada a descobrir o acontece no lugar, Louisa também passa a ajudar Lee, um dos hóspedes e algo mais próximo de um amigo, a descobrir o que o tio dele esconde. É assim que ela percebe que a casa Coldthistle, na sua frieza, atrai todo tipo de gente sombria. Quanto mais ela investiga, mais o pânico se torna presente. Louisa acaba se vendo de alguma forma presa à casa e a seus segredos. Como escapar de um lugar que mais parece um tribunal da justiça com as próprias mãos? Os trabalhos do sr. Morningside acabam por fazer mais sentido quando interligados aos eventos da casa. Eu gostaria de ter acompanhado as descobertas de Louisa ao fazer a ligação das escrituras com os outros personagens, seria um ponto legal de ver acontecendo.
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| Fonte: Epic Reads - Reprodução. |
Por mais que a escrita seja ótima e atmosfera do livro permaneça durante todo o desenrolar da história, tudo demora demais para acontecer. Eu já estava em mais de 70% do livro quando enfim as reviravoltas deram início.
Em determinado momento, a autora começou a pesar a mão. Se no início o tom de suspense era satisfatório e interessante, do meio para o final se torna pesado. Não há necessidade na demora em revelar certos segredos, o clima de mistério não sustenta a falta de informações. É como se a autora tentasse usar o isso para instigar o leitor, infelizmente essa falta de equilíbrio apenas tornou a leitura cansativa.
Tive a impressão de que o final foi levemente corrido. As explicações dadas pela autora sobre os mistérios do livro foram tão escassas que algumas quase parecem sem propósito pela falta de um desenvolvimento convincente.
O enredo do livro é bastante promissor, os elementos presentes são interessantes e cumprem o seu papel, o ar de suspense foi bem vindo e bem elaborado e a escrita é ótima e fluida. Contudo, há tão pouca explicação sobre o que são as pessoas que estão na casa e seu propósito (além de julgarem os atos hediondos dos visitantes) que o livro se perde um pouco do meio para o final. As decisões tomadas pela protagonista se tornam impulsivas, eu esperei um pouco mais de orientação dos outros personagens para o que ela estava fazendo. Mas, como foi deixado como um ganho para a continuação, suas consequências ficarão claras no segundo livro da série.
Ficha técnica:
Autora: Madeleine Roux
Editora: Plataforma21
Tradução: Guilherme Miranda
Edição: Fabrício Valério e Flavia Lago
Editora-assistente: Thaíse Costa Macêdo
Preparação: Raquel Nakasone
Revisão: Bábara Borges e Vanessa Gonçalves
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